Escritos
B. Piropo
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24/07/1995
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Se o sucesso de uma feira é medido pela afluência de público, então a Fenasoft da semana passada foi um enorme sucesso. Não sei se lá estavam os setecentos mil a um milhão de visitantes previstos pela organização. Talvez até estivessem mesmo. Mas seja como for, o fato é que o Anhembi estava botando gente pelo ladrão. Os estacionamentos lotavam menos de uma hora após a feira abrir para o público, as filas nas bilheterias eram imensas, o trânsito nas imediações ficava um inferno do início da tarde até o meio da noite, em suma: era gente que não acabava mais. Eu mesmo me surpreendi com tanto público. É verdade que foi uma surpresa agradável: saber que uma feira de informática pode atrair tanta gente aqui no patropi, mesmo com toda demanda reprimida por tantos e tão tenebrosos anos de reserva de mercado e com toda a euforia do plano real, não deixa de ser uma boa nova. Mas o fato é que era muita gente. Na verdade, segundo a opinião geral, era gente demais.

É claro que uma feira vazia não agrada nem a expositores nem a visitantes. Mas uma feira demasiadamente cheia também não. Particularmente quando o número de expositores é claramente maior que o máximo suportado com conforto pelo pavilhão. E a ânsia de acomodá-los todos estreita os corredores para pouco mais de dois metros. Resultado: se deslocar dentro da feira era uma missão quase impossível, especialmente quando algum expositor de imaginação mais fértil resolvia abrilhantar seu estande com um show de gosto duvidoso, fazendo juntar meia dúzia de beócios no meio do corredor. Houve ocasiões em que levei dez a vinte minutos para percorrer menos de cem metros. Ano que vem, ou ela se espalha para fora do pavilhão e alarga os corredores, ou será um caso raro de evento que tenderá ao desaparecimento por excesso de público. Porque, conforme o comentário unânime dos visitantes e expositores, desse jeito não dá mais. Eu mesmo, um conhecido rato de feira, pela primeira vez em muitos anos não visitei todos os estandes de uma delas. Porque quase a metade dos tempo que dispunha foi gasto tentando me deslocar de um estande para outro pelos corredores estreitos e apinhados.

Com tanta gente e tantos expositores, na Fenasoft havia de tudo. Desde os produtos da Farmware, uma curiosa coletânea de programas, digamos, estilo country, para administração rural e gerenciamento de rebanhos, até o Lithos, da DL & B, um gerenciador de banco de imagens desenvolvido para museus mas interessando, quem diria, principalmente aos revendedores de eletrodomésticos.

Numa feira que nasceu para mostrar o software nacional, não poderiam faltar bons produtos patrícios. Como o sempre excelente Fácil, agora com um editor de tabelas altamente funcional e um gerador de caixas de diálogo que é um achado, principalmente para profissionais que trabalham com documentos idênticos nos quais apenas variam alguns campos, como contratos e papelório de igual estirpe.

Também encontrei por lá meu dicionário predileto, o Dic da Opção. Uma softhouse mineira, pequena porém decente, cujo produto, um gerenciador de dicionário que agora vem acoplado a um corretor ortográfico funcionando como um add-in do Word, é vendido a um preço mais que razoável, não é protegido, roda sob OS/2 e ainda por cima é poliglota: faz revisão ortográfica em português, inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. Inclusive simultaneamente, se você assim o desejar. Acha bobagem? Então certamente você nunca precisou rever um texto cheio de citações e passou horas clicando no botão "ignore". Pois essa mesma turma da Opção desenvolveu também o Doc Man, um software de arquivamento eletrônico de documentos. Que conheci na feira e ainda não deu para formar juízo. Mas assim que instalá-lo, volto a ele. De qualquer forma, foi um prazer rever o pessoal da Opção e tomar conhecimento que um grupo de jovens entusiasmados consegue sobreviver desenvolvendo e comercializando um bom programa nacional. O que vale também para o pessoal do Fácil, ça va sens dire. E do PIX, um utilitário que ajuda o micreiro a organizar seu disco rígido, cuidar da instalação e desinstalação de programas e gerenciar arquivos. Tudo isso usando o conceito de "sistemas" que adotam uma hierarquia independente dos diretórios.

Os grandes lá de fora, evidentemente, também se fizeram presentes. Como a IBM, que mostrava o Warp Connect, talvez a única novidade da feira. Mas que nada mais é que a já conhecida versão 3.0 do OS/2, porém incluindo suporte à rede. E por falar em OS/2: durante a feira bati um edificante papo com Mr. Don [Cristina: bote aqui o sobrenome do homem, que eu não consigo encontrar o cartão de visitas...], o homem da PSP. Segundo ele, a melhor coisa que poderá acontecer para o sucesso do OS/2 será o lançamento de Windows 95 dentro de um mês. Ele acredita que os usuários ansiosos pelo produto terão uma terrível decepção: no lugar do simples upgrade que esperam encontrar, acharão uma interface inteiramente nova. E, pensa Mr. Don, migrarão correndo para o OS/2, cuja versão atual, ao contrário das anteriores, foi voltada para os interesses dos usuários e não desenvolvida tendo em mente as grandes corporações.

A Microsoft, evidentemente, não concorda. Tanto assim que reiterou: Windows 95 será lançado mesmo em 24 de agosto, inclusive no Brasil. Simultaneamente com o lançamento nos EUA, caso consigam fechar o link do satélite. Mas, com ou sem satélite, em um retumbante evento para mil e quinhentas pessoas, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Um evento imponente, bem ao estilo da MS. E, para fazer a turma do OS/2 morrer de inveja, no mesmo dia virão à luz vinte produtos da MS para Win 95 - que, juntamente com os que serão lançados imediatamente depois pelas softhouses independentes, provavelmente farão com que tenha mais programas nativos em três meses que o OS/2 em três anos. E a MS Network, perguntei eu, vem junto? Claro que sim. Até o final do ano poderá ser acessada experimentalmente no Brasil. E a operação comercial está prevista para o início do ano que vem, inclusive provendo acesso à Internet. Segundo a MS, Win 95 está pronto, é um produto poderoso e estável e estará disponível em português no mesmo dia do lançamento nos EUA.

Como era de esperar - ao menos nos últimos cinco ou seis anos - esse é um assunto sobre o qual IBM e MS têm opiniões opostas. O que quer dizer que no mínimo uma das duas está enganada.

Ano que vem, mais ou menos nessa época, a gente já vai saber qual.

B. Piropo