Escritos
B. Piropo
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28/08/1995
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Hoje, passei na redação e encontrei Andreia e Cristina (e tu, guapa Luiza, musa da informática, por onde andavas com tuas madeixas que não te vi?). Andreia logo escafedeu-se com seus badulaques das Pequenas Ambições à cata de um fotógrafo. Já à Cristina foi fácil convencer a almoçar em má companhia.

Fomos. E durante o almoço lascou-me lá à queima-roupa: "Piropo, você está decepcionado com o OS/2?" Não, não estou, respondi. Mas porque a dúvida? Bem, é que depois das últimas colunas alguns amigos lhe haviam perguntado justamente isso.

Deram elas tal impressão? Sei não. Em todo o caso, atendendo a pedidos, esclarecerei a quantas andam minhas relações com os sistemas operacionais que rolam por aí. Um assunto que, em princípio, só interessaria a mim e minhas CPUs. Mas depois de quase três anos a discutir meus relacionamentos em público, até que cabe o esclarecimento.

Para começar: o OS/2, na minha opinião, continua sendo um excelente sistema operacional. O melhor que há na praça. Disparado. Incluindo o Windows 95, que não havia quando eu escrevi essa coluna mas já há quando você a lê. E disso não tenho a menor dúvida. Pelo contrário: desde que comecei a usá-lo, na versão 2.0, só vejo o OS/2 melhorar versão a versão. E olhe que, sem contar as versões "for Windows", já estou na quarta. Portanto, não estou nada decepcionado com ele. Longe disso.

Por outro lado, Windows também melhorou. E muito. A diferença entre o OS/2 2.0 e Windows 3.1 era brutal. O primeiro era um verdadeiro sistema operacional de 32 bits inteiramente orientado para objetos com uma soberba multitarefa. O segundo, uma pobre interface gráfica apoiada sobre um DOS ultrapassado, o paraíso das GPFs. Já a diferença entre o OS/2 2.11 e Windows 3.11 for Workgroups era bem menor: Windows ainda não era um sistema operacional de 32 bits, mas já se aproximava bastante disso ao dispensar o DOS com seus acessos a disco e a arquivos em 32 bits.

E agora? Agora há que comparar o Warp (ou, melhor, o Warp Connect, a versão com suporte a rede não hierárquica) com Windows 95. Ambos sistemas operacionais de 32 bits, ambos capazes de multitarefa preemptiva, ambos orientados para objetos.

Na minha opinião o Warp ainda é o melhor. O que é natural: enquanto o recém nascido Windows 95 é o primeiro sistema operacional de 32 bits da Microsoft para desktops (Windows NT é de 32 bits mas não é para desktops, é para redes), o Warp amadureceu um bocado em três anos de mercado. Só que, agora, a diferença é muito menor e Windows já dá para encarar. Mas ainda acho o OS/2 melhor. Portanto, não estou decepcionado com ele como pensaram os amigos da Cristina. Porém...

O problema é que sempre há um porém. No nosso caso, o "porém" tem até nome: aplicativos. Pois, como sabemos todos, a IBM não conseguiu convencer as softhouses a inundar o mercado com os aplicativos de 32 bits para OS/2. Na verdade, em matéria de inundação, o que há hoje disponível mal dá para molhar a sola dos sapatos.

Até agora, para os usuários do OS/2, isso era algo, digamos, desagradável, mas que não atrapalhava. Porque se não havia programas OS/2, havia programas Windows às mancheias. Aos potes. Aos montes. Aos borbotões. Às catadupas. E programas que rodavam perfeitamente sob OS/2. Na verdade, atrevo-me a dizer que rodavam bem melhor que sob Windows (minhas tentativas de rodar programas Windows sob Windows, inclusive na versão 3.11 for Workgroups, a melhor antes de Windows 95, foram todas abortadas a cruéis golpes de mensagens informando que faltava memória em minha máquina apesar de seu 20Mb de RAM; culpa dos malditos recursos do sistema, o calcanhar de Aquiles de Windows 3.x). Em suma: os usuários do OS/2 não corriam risco de inanição. Se não havia brioches de 32 bits, sobrava pão de 16.

Mas daqui pra frente tudo vai ser diferente. Porque não haverá softhouse que não se apresse a lançar a versão 32 bits para Windows 95 de seus produtos. Todas, sem exceção. Pelo menos as que pretendem permanecer no mercado. Inclusive a Lotus, que agora pertence à IBM mas não é besta e nem está aí para levar prejuízo. Resultado: dentro de no máximo seis meses, versão nova de qualquer aplicativo que preste só se for para Windows 95. O que não tem nada de mais. Exceto, evidentemente, por um detalhe pequeno mas importante: nenhuma delas rodará sob OS/2.

O que nos leva a uma pergunta: se não há (nem haverá nos próximos meses) versões OS/2 de aplicativos decentes, como Word Perfect e Corel Draw (por favor não me venham com aquela rançosa versão 2.5) - sem falar, naturalmente, nos programas da MS como Word e Excel - e se as futuras versões para Windows não rodarão no OS/2, os usuários do OS/2 vão rodar o que? O que já rodam hoje? Muitos, de fato, o farão. Mas espiando com o rabo do olho para a máquina do vizinho, que estará rodando as novas versões Win 95 (ou 96, sei lá). E novas versões sempre fazem gracinhas novas.

Por quanto tempo os fieis usuários do OS/2 agüentarão rodar suas versões velhas? Tá bom, eu sei que esse negócio de sistema operacional é assim tipo torcida de futebol, capaz de despertar fanatismos. Mas eu já vi esse filme. E se você usa micro há mais de cinco anos, também já. Então responda depressa: quantos micreiros você conhece que ainda se mantêm fieis ao DOS e sua linha de comando? E que programas eles rodam?

Percebeu o espírito da coisa? Pois é isso aí. Então, repito: não, eu não me decepcionei com o OS/2. E sim, eu continuo achando que ele é melhor que Windows, inclusive que Windows 95. Mas acontece que pretendo acompanhar a evolução da informática.

Como vou fazer isso? Bem, por acaso me encontro agora em uma situação das mais privilegiadas. Pois nesta mesma semana, assim que receber a memória encomendada, montarei minha nova máquina. E não me desfarei da velha a curto prazo. Duas máquinas, dois sistemas: recebi há pouco da IBM a nova versão do Warp Connect e (espero) receberei da MS um novo Windows 95 (o beta já recebi, instalei e gostei: foi nele que me baseei para formar opinião sobre o sistema). Durante alguns meses vou usar os dois. As máquinas não são iguais, evidentemente, mas já sou grandinho o bastante para dar o desconto do desempenho do sistema que rodar na mais rápida.

Que sistema estarei usando no início de 96? Sei lá. Certamente aquele que satisfizer minhas exigências sobre o que se deve esperar de um sistema operacional decente.

E que me permita selecionar os aplicativos que mais me agradem. De preferência escolhendo em uma longa lista. Quanto mais longa, melhor.

B. Piropo