Escritos
B. Piropo
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09/10/1995

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Pois como eu dizia semana passada, a máquina decente funcionou perfeitamente sobre a bancada. Ela e seus dois sistemas operacionais: Windows 95 e OS/2 Warp Connect - tirados da caixa e instalados de CD-ROM, tudo nos conformes para que vocês não pensem que eu sou um reles pirata (pirata, eventualmente, talvez - mas reles, jamais). E que não venham a justificar minhas desventuras por questões de cópia malfeita.

Com tudo nos conformes, chegou a hora de montar a máquina no gabinete. Como tudo já havia sido mais que testado na bancada, imaginei em minha santa ignorância que bastava enfiar aquela tralha toda no gabinete e atarrachar meia dúzia de parafusos para começar a trabalhar. Vã esperança. Encaixei tudo, liguei, e nada.

Mas como nada? Estava tudo funcionando tão bem, como é que agora nem aparecia uma mísera mensagem de erro no monitor? Tudo o que eu conseguia era aquela tela negra me olhando com escárnio? Por que, deus meu? O que tinha dado errado?

Descobri a causa depois de quase um dia inteiro do mais puro desespero, montando a maquina na bancada, vendo funcionar, enfiando tudo no gabinete e nada, testando placa à placa, suando em bicas e lamentando ter escolhido um assunto tão miserável para escrever sobre (fosse moda, por exemplo, provavelmente estaria eu vendo gatas a desfilar em vez de me debulhar em suor sobre aquela maldita bancada; sem contar que certamente a presença feminina no conjunto de meus leitores seria bem mais marcante). O problema era que a nova placa mãe não se sentia confortável no velho gabinete: seus slots PCI eram ligeiramente mais próximos da borda do que deveriam, e quando encaixadas no gabinete as placas controladoras eram forçadas para trás e faziam mau contato. Vocês dirão, naturalmente, que a causa era evidente e que eu deveria ter suspeitado dela imediatamente. Mas a diferença era quase imperceptível, uma mísera fração de milímetro. Além de não se manifestar sempre na mesma placa controladora, o que fazia com que ora uma não funcionasse, ora outra. Sem falar na vez em que tudo funcionou perfeitamente com o gabinete deitado sobre a bancada e parou de funcionar quando o pus em pé: o deslocamento para baixo causado pelo peso da placa mãe foi o bastante para provocar o mau contato. Contornei o problema com um artifício de rara delicadeza e sensibilidade: com uma serra, removi metade da parte trazeira do gabinete. Mas não se impressionem: se você passarem anos a fio debruçados sobre os livros como eu, também conceberão uma solução assim sutil.

Deu certo: sem as barras verticais forçando as placas foi-se o mau contato e o micro, afinal, manifestou-se. O problema é que eu perdera todo um sábado tentando fazer aquela maldita coisa funcionar e agora precisava instalar os programas rapidinho pois havia me comprometido a entregar essa coluna na segunda. Essa e mais quatro. De modo que o tempo urgia e eu precisava de uma máquina para trabalhar (não esqueçam que eu havia transformado minhas duas máquinas em uma que mal funcionava...)

Bem, sendo o caso de urgência, vamos cuidar primeiro do editor de textos, que o resto se ajeita mais tarde. E já que eu poderia, ao mesmo tempo, trabalhar e testar um programa novo, aproveitei a ocasião e instalei o Office 95 com todos os seus 32 bits. Depois, desliguei a máquina e fui dormir, que já era madrugada e eu estava exausto.

Domingo, acordei cedo resmungando, liguei a máquina e comecei a trabalhar. Como o único editor de textos em condições de funcionar era o Word 95, nem hesitei na hora de escolher o sistema durante o boot: fui de Windows 95. No começo, correu tudo bem. Pena que o começo tenha durado menos de dez minutos. Pois não mais que de repente a tela piscou e apareceram aquelas tenebrosas letras brancas sobre fundo azul informando que havia ocorrido uma exceção fatal no endereço tal e qual. Mas que eu não me assustasse, que bastava encerrar o aplicativo que havia causado a falha que tudo continuaria na santa paz. O problema é que o indigitado aplicativo mal comportado foi o próprio Windows 95. Sair dele no meio de uma sessão de trabalho é mais ou menos como tirar a escada e ficar pendurado na broxa. Só dando boot...

Tentei de novo. E de novo, e de novo. Só mudava o tempo, mas nunca passava de dez minutos: lá vinha novamente sempre a mesma exceção, quase no mesmo endereço. Assim não dava para trabalhar. Mas pelo menos eu ainda tinha o OS/2. Meu velho e fiel OS/2 lá estava, impávido, provavelmente rindo à socapa da desfeita que Windows 95 havia me aprontado. E ele, que eu já conheço há anos, não iria me falhar na hora da necessidade. O problema é que todas as minhas colunas usam o formato Word, de modo que eu teria que instalar o Word 6.0 sobre o OS/2 recém instalado, já que ele não aceita os novos aplicativos de 32 bits de Windows.

Como sabemos, quando é inevitável, há que relaxar e aproveitar. Dei novo boot, agora com o OS/2, carreguei sua própria cópia de Windows, o WinOS2, e instalei o Word. Agora sim, tudo irá bem. Em um terreno familiar como aquele nada poderia dar errado. E comecei, de novo, a trabalhar.

No começo correu tudo bem. Pena que o começo tenha durado somente até o primeiro acento. Teclei acento, letra, e apareceram na tela a letra e o acento. Mas eu queria acento sobre a letra. Ora, eu tinha certeza que havia ajustado o WinOS2 para o teclado "US Internacional", o apelido que a MS usa para teclado contrabandeado. Então o que estaria acontecendo? Abri o Control Panel, e lá estava: teclado "US" puro. Eu teria me enganado? Tudo bem, era só mudar. Escolhi o novo teclado e cliquei no botão OK. Recebi o aviso que aquele driver já havia sido instalado. Gostaria de permanecer com ele? Disse que sim, claro, e fechei a janela. Lá veio de novo o mesmo aviso. Disse que sim novamente e novamente fechei a janela. O aviso apareceu de novo. E ficou nisso. O sistema, simplesmente, se recusava a aceitar a mudança. E com toda aquela urgência, não dava para descobrir o porquê de tanta desgraça junta num domingo.

Se as colunas foram entregues acentuadas e à tempo? Mas claro, que não sou homem de estourar prazos.

Mas nesse fim de semana, devo admitir, isso só foi possível porque pelo menos o notebook estava funcionando. Com Windows 3.x sobre PC-DOS...

B. Piropo