Escritos
B. Piropo
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23/10/1995

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Taí, pensando bem, não posso reclamar nem do Windows 95 nem do Warp Connect. Afinal ultimamente, rodando sempre os mesmos programas e os mesmos sistemas operacionais, eu estava mesmo me sentindo um tanto burocrata. Do tipo que fica anos a fio na mesma escrivaninha, sentado na mesma cadeira ensebada, manuseando os mesmos processos de mesmo teor, despachando-os sempre com o mesmo despacho e carimbando-os todos com o mesmo carimbo (a rotina só é quebrada quando aparece um expediente que deveria ter sido dirigido a outra seção, ocasião em que o burocrata atinge o supra-sumo da realização profissional e lasca um "aqui por engano": um despacho que pouco diz, nada faz, menos informa, nunca resolve e portanto não serve para absolutamente coisa alguma - o sonho do burocrata). Agora, depois que enfiei esses dois animais em minha máquina, acabou-se o marasmo e minha vida tornou-se, de novo, cheia de sobressaltos. Em compensação, estou feito criança com brinquedo novo. E logo dois de uma vez, para não ter do que me queixar.

Windows 95 está cada vez menos instável: descobri que o culpado pelas freqüentes exceções (o novo apelido dos UAE, aliás GPF) era um certo Findfast, lançado automaticamente sempre que eu ligava a máquina e que ficava rodando em segundo plano, pelo que entendi indexando os arquivos do disco rígido para facilitar a busca pelos aplicativos do Office 95. Como a versão do Office 95 (e, por via de conseqüência, do Findfast) instalada em minha máquina é a beta, não faz sentido reclamar do comportamento do aplicativo. Mais sensato é simplesmente impedir que ele seja lançado a cada boot. O que fiz, e com isso o comportamento do Windows 95 em geral melhorou sensivelmente. Ainda não está nenhuma maravilha e de vez em quando dá um pau. Mas isso faz parte da vida e é natural em se tratando de um sistema operacional onde há tanta coisa nova.

Já meu WinOS2, a versão de Windows que vem com o OS/2, compatível com Win 3.11, passou a acentuar corretamente tão logo eu me dei conta da causa do problema (para ser franco e honesto, quem se deu conta foi o sábio Manela em uma providencial visita que me fez). Causa que, por seu inusitado, vale comentar.

Seguinte: ao notar que havia algo errado com a acentuação, fiz o que todo usuário de Windows faria em uma situação dessas: desferi um duplo-clique no objeto "International" do Control Panel e reconfigurei o teclado para "US International". Ao fazê-lo, abriu-se uma janela pedindo para colocar um disquete no drive A com o arquivo Kbdusx.Dll. Ora, pensei eu, evidentemente só pode se tratar de um dos disquetes de Windows 3.x. Infelizmente nesse caso as evidências apontavam na direção errada e era justamente por isso que a coisa não funcionava. Porque a DLL com as rotinas de controle de meu teclado que vem com Windows 3.1 da Microsoft não funciona com o WinOS2 da IBM. Para funcionar foi preciso encontrar o arquivo da DLL em um dos subdiretórios do CD-ROM de instalação do OS/2 e substituir por sua via de diretório a referência ao drive A na supracitada janela. Ou seja: como eu instalei o WinOS2 e não o Windows 3.1, para alterar as características do teclado era preciso usar a DLL fornecida com WinOS2 e não com Windows 3.1.

Nessa altura dos acontecimentos vossência deve estar pensando que isso é mais que óbvio e que se eu não percebi foi pela mais evidente, pétrea e absoluta das burrices. O que faz sentido, já que o Manela, que não é burro, o resolveu de uma única assentada. Admito ser perfeitamente possível que mais uma vez vossência esteja coberto de razão. Mas antes de dar os trâmites por findos, permita-me fazer algumas alegações em minha humílima defesa.

Tanto Windows 95 quanto o OS/2 foram instalados nessa máquina que vos fala a partir de discos em CD-ROM. Não se espante, que a tendência e essa: o Office também foi aqui instalado de CD-ROM e acredito que daqui a um par de anos será muito difícil encontrar um produto que possa ser instalado de disquetes - tudo virá em CD-ROM. Há fartas e sobejas razões para que assim seja: em um único CD-ROM, mais barato que um disquete de alta densidade, cabem mais de seiscentos Mb de informações. E além disso o uso de CD-ROM para distribuição de software reduz um bocado a pirataria doméstica, aquela tipo "comprei um programinha interessante, leva uma cópia para ver se você gosta" (é claro que o pirata profissional não somente continuará existindo como também florescerá com ainda mais viço e vigor, já que um drive para reproduzir CD-ROM não é assim tão caro - mas pirata profissional é caso de polícia e rarefazer a pirataria doméstica enquanto reduz os custos já é motivo suficiente para as softhouses aderirem alegre e entusiasticamente ao CD-ROM).

Pois bem: quando fiz uma alteração qualquer na configuração inicial de Windows 95, ele educadamente pediu para introduzir no drive o CD-ROM de onde eu o havia instalado. Quer dizer: como Windows 95 "sabia" que foi instalado de CD-ROM, não me veio com aquela parlapatice de drive A e pediu logo seu CD-ROM, como era de esperar. E o próprio OS/2 também se comporta assim. Só para confirmar, solicitei a instalação de suporte para PC Card (que o OS/2 continua chamando de PCMCIA) e o sistema, mui sensatamente, abriu uma janela solicitando inserir no drive correspondente seu CD-ROM de instalação.

Pois quando alterei a configuração de teclado do WinOS2 eu sabia disso. Portanto, ao ver o bicho solicitar que enfiasse no drive A um disquete com o arquivo da DLL, inferi que não era necessariamente a DLL de seu disco de instalação, senão ela me seria pedida no CD-ROM. E continuei insistindo com o disquete de Windows 3.1, que não funcionava, sem atentar para o detalhe que aquele era o WinOS2 e não Windows 3.1.

Um detalhe besta, é verdade. Mas que bem poderia ter sido previsto na rotina de instalação do OS/2. Afinal, não há sentido em um produto instalado de CD-ROM solicitar por default a alteração da configuração através de disquetes. É por essas e outras que o Júlio Botelho diz que quem programou a instalação do OS/2 foi um cara plantado na IBM pela MS.

Ao fim e ao cabo, pesando todos os fatores, impossível não concluir que o problema de acentuação de meu WinOS2 foi causado por burrice mesmo. Porém insisto em que o burro não fui eu, mas o cara que programou aquelas rotinas. Você não acha?

Bem, talvez eu tenha sido também. Mas induzido por ele. Concorda?

Tá bom, o máximo que posso admitir é que pelo menos um de nós dois foi burro.

Qual dos dois, você decide.

B. Piropo