Escritos
B. Piropo
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06/11/1995

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Se tem um negócio que me incomoda é mexer com uma coisa que não sei como funciona direito. Até consigo aprender como se faz, tipo receita de bolo. E faço direitinho, sem cometer um único erro - o que, ao que parece, é uma situação satisfatória para a maioria dos mortais. Mas pouco me adianta saber como, se não sei o porquê. Não dá: aquele negócio fica me apoquentando o tempo todo e eu não sossego enquanto não descobrir tim-tim por tim-tim as razões que fazem com que isso ou aquilo seja assim e não assado.

Pois ultimamente o que vinha me incomodando era o famoso limite de 528 Mb (que não são 528, mas 504 como veremos mais tarde) para discos IDE. Limite esse que foi afinal suplantado com o padrão EIDE ou Fast-ATA. O que causa esse limite? Que diabo é ATA? De onde veio esse Fast-ATA? E esse maldito EIDE, de que se trata?

Essas questões são todas questões técnicas. E questões técnicas se resolvem consultando literatura técnica. Pelo menos assim é em quase todo o ramo de conhecimento. O problema é que, quando se trata de informática pessoal, há um enorme descompasso entre a literatura técnica disponível e a vanguarda da tecnologia. Porque esse é um campo onde a evolução é tão rápida que os livros, ao serem lançados, já estão a um passo da obsolescência. Os poucos meses que medeiam entre o momento em que os originais deixam as mãos do autor e o dia em que o compêndio chega às livrarias são o bastante para desatualizar inapelavelmente uma considerável parcela da informação contida no livro. E não tem jeito: há que se conviver com isso. Agora mesmo acabo de ler mais um dos excelentes livros do mestre Laércio Vasconcelos. Que, por não depender de editora (o Laércio é um cara esperto e edita seus próprios livros) consegue manter suas publicações razoavelmente atualizadas. Pois bem: esse livro, o "Hardware Avançado", é o volume 2 da série "Como Montar, Configurar e Expandir seu PC 486/Pentium". E um número considerável de suas páginas é dedicado exclusivamente a atualizar as informações do Volume 1, que foi lançado há pouco mais de quatro meses (o que, evidentemente, não desmerece o livro - muito pelo contrário: trata-se de uma obra excelente que li com enorme prazer). E quatro meses não é tanto tempo assim...

A melhor forma de contornar o problema é buscar informações atualizadas em revistas especializadas, mais ágeis e flexíveis. Pelo menos assim era há alguns anos, quando os micros não eram tão populares e a maioria de seus felizes proprietários era constituída de micreiros, pessoas como você e eu que se interessam por detalhes técnicos (como sei que você se interessa? Ora, se não se interessasse não estaria lendo essa coluna...). Hoje, a maioria é de usuários, não de micreiros. E os usuários estão mais interessados nas novidades que nos tecnicismos. Resultado: o perfil das revistas mudou. As melhores, como a PC Resource e PC Source, com seus excelentes artigos técnicos, simplesmente desapareceram. As novas - e as antigas que sobreviveram - acabaram por se transformar em vitrinas: mostram os novos lançamentos de hardware e software, comparam produtos e temos conversado. Artigos discutindo padrões, explicando arquitetura, comentando barramentos e coisas que tais, nem pensar. A exceção que confirma a regra ainda é a Computer Shopper, um senhor calhamaço dedicado às vendas pelo correio, que com sua excelente Tech Section ainda lança alguma luz nas tenebrosas cavernas de minha ignorância. O resto se limita a contar novidades. Se você, meu prezado leitor, acha que estou errado, dê-me o prazer de me desmentir. Mas não me venha dizer que essa ou aquela revista é boa simplesmente porque você gosta dela. Seja específico e objetivo. Por exemplo: aponte-me uma única revista onde apareça uma explicação razoável do que vem a ser memória EDO, de Extended Data Out, uma novidade nem tão recente, e eu alegremente me curvarei agradecido, admitindo o engano e aprendendo mais essa.

Mas felizmente nem tudo está perdido. Pois a própria tecnologia que avança tão celeremente e torna a informação obsoleta em prazo tão curto acabou por gerar o antídoto para essa mesma obsolescência. No caso, via internet. A tão badalada internet que todo o mundo fala, mas tão pouca gente sabe ao certo como usufruir (há dias ouvi um anúncio no rádio de uma revista alardeando "os riscos a que estão sujeitos os usuários da internet graças aos piratas cibernéticos" e me assustei com a quantidade de bobagens que tem germinado ultimamente de carona no modismo da internet).

O segredo está no verbo. Ao invés do tão em moda "surfar", o negócio é "garimpar". E em vez de se fartar de informações sem nenhuma utilidade prática saltando de homepage em homepage, o segredo é procurar por aquilo que se precisa evitando perder tempo com bobagem. E no caso o verbo garimpar cai como uma luva. Porque no meio de montanhas de cascalho inútil, de ganga impura, aqui e ali encontram-se pequenas preciosidades. Pepitas de informação que, juntas, acabam formando um painel com tudo o que você precisava saber sobre um assunto e não tinha a quem perguntar.

Pois foi assim que consegui os dados que precisava para deslindar os mistérios do EIDE e do Fast-ATA. Com duas semanas de busca, juntei algumas dezenas de documentos garimpados na internet que, afinal, esclareceram minhas dúvidas. A maioria deles são as preciosíssimas FAQs, ou "Frequently Asked Questions", uma seleção das perguntas mais freqüentes - e suas respectivas respostas - que costumam ser feitas sobre determinados assuntos. Mas juntei também um bocado de especificações técnicas sobre produtos, garimpadas nos "sites" mantidos pelos fabricantes, como Seagate, Maxtor e Conner. Em suma: algumas centenas de páginas (impressas, que esse negócio de computador é muito bom para uma consulta rápida sobre um ou outro assunto, mas para digerir a informação não há nada como lê-la em um pedaço de papel) com dados sobre o tema.

O que me permitiu, enfim, suspirar aliviado e constatar: agora eu sei.

E se eu sei, nem há como discutir: em breve vocês saberão.

O que quer dizer que acabou a sopa. Chega de conversa mole, que nos últimos meses essa coluna virou bate-papo sem compromisso. E isso aqui não é lugar de se jogar conversa fora.

Semana que vem vamos iniciar uma série que vai destrinchar os discos rígidos modernos e seus novos padrões Fast-ATA e EIDE. Começando pelos primórdios, os velhos winchester externos do PC de antigamente, e chegando até os novos EIDE de mais de um Giga.

Preparem-se, que a moleza acabou. E arregacem as mangas que vamos começar a trabalhar.

B. Piropo