Escritos
B. Piropo
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04/12/1995

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Sabemos que as informações são armazenadas nos discos rígidos sob a forma de pontos magnetizados nas superfícies dos discos. Para ler essas informações há que transformar estas marcas magnéticas em bits, juntá-los oito a oito para formar bytes e copiá-los na memória da máquina. Para isso a cabeça de leitura/gravação move-se até a trilha onde as informações estão gravadas (de tal forma que os pontos magnetizados apareçam como variações de campo magnético criadas pelo movimento do disco sob ela) e usa uma pequena e delicada bobina situada na própria cabeça para captar essas variações de campo magnético, transformando-as em "sinais", ou pulsos de uma corrente elétrica. Essa corrente é encaminhada ao endec, que decodifica os sinais, ou seja, transforma os pulsos em bits, e monta o bytes correspondentes. O processo de gravação é inverso: os bytes são codificados, ou seja, transformados em sinais e encaminhados à bobina da cabeça de leitura/gravação sob a forma de uma corrente pulsante que faz variar o campo magnético da cabeça, deixando "marcas" magnéticas na superfície do disco.

Nas trilhas dos discos magnéticos não são gravados apenas os dados que compõem os setores mas também, entre os setores, informações destinadas a verificar a integridade destes dados. Não vale a pena entrar em detalhes, mas a coisa funciona mais ou menos como a velha "prova dos nove": quando cada setor é gravado, certas operações matemáticas são aplicadas à soma dos bytes que o compõem (não se esqueça que todo byte é um número entre zero e 255) e seu resultado, denominado "checksum", é gravado na trilha, entre aquele setor e o subseqüente. Quando o setor é lido, o sistema lê também a checksum, efetua as mesmas operações com os bytes que acabou de ler e compara a checksum calculada com a lida no disco. Se um único bit tiver sido corrompido, os resultados serão diferentes. E vale então o velho ditado: escreveu e não leu, o pau comeu. No caso, o pau come sob a forma de uma mensagem de erro. A esse processo de verificação de integridade através da checksum denomina-se "validação dos dados".

Semana passada comentamos que na interface ST-506/412, o endec (o chip responsável pela codificação e decodificação das informações) situava-se na placa controladora espetada em um dos slots da máquina. Os drives MFM e RLL controlados por ela eram de uma simplicidade extrema. Quase toda a eletrônica de controle se situava na placa controladora. No drive não havia quase nada além das partes mecânicas.

Em princípio essa configuração parece perfeitamente satisfatória. Mas tem um grave defeito. Veja lá: os sinais são transportados do disco até a placa controladora sob a forma de uma corrente pulsante gerada pela variação do campo magnético criada pela passagem de marcas magnéticas gravadas na superfície de um disco que gira sob uma minúscula bobina. Evidentemente, a intensidade desta corrente elétrica é muito pequena. Nos discos controlados pela interface ST-506/412 esta fraca corrente percorre toda a extensão do cabo que liga o disco à placa. São poucas dezenas de centímetros, aparentemente quase nada. Mas a conexão é feita por um cabo chato, sem blindagem, que se estende no interior do gabinete, sujeito a todo o tipo de ruídos e interferências eletromagnéticas. Uma situação no mínimo perigosa para a confiabilidade dos dados. Se houvesse uma maneira de trazer o endec e os demais circuitos eletrônicos para um local mais próximo da cabeça magnética, a confiabilidade do sistema seria muito maior.

Talvez a mágica lhe pareça um tanto besta: afinal, fique o endec onde ficar, sempre haverá um cabo ligando o drive à placa mãe e os sinais correspondentes aos bits e bytes trafegarão por ele, sujeitos às mesmas interferências. Sim, respondo eu, mas nesse caso são dados já decodificados e, ao contrário das fracas pulsações captadas pela cabeça magnética, sujeitos à validação. Além do que, quando se traz a eletrônica de controle para junto do drive, o sinal transportado pelo cabo já não é mais o frágil sinal captado pela cabeça magnética, mas um sinal decodificado firme e forte, gerado pelos circuitos eletrônicos responsáveis pelo controle do disco e muito menos propenso a interferências.

Como vimos semana passada, os responsáveis pelo desenvolvimento da interface ESDI já haviam se apercebido disso e aproximado os circuitos de controle do drive. Mas a interface ESDI fora desenvolvida ainda nos tempos do XT e usava uma controladora que se conectava a um barramento de dados de apenas oito linhas (os velhos "slots de oito bits" do XT). Depois do lançamento do AT e seu barramento de 16 linhas de dados (que acabou por ser adotado pela indústria como o padrão de barramento ISA com seus "slots de 16 bits") havia necessidade de uma coisa mais moderna.

O AT, de "Advanced Technology", lançado em 84, foi o primeiro micro da IBM a usar o 80286, a então nova e revolucionária CPU de 16 bits da Intel. Mas como adotava a "arquitetura aberta" da IBM, que permitia que outros fabricantes desenvolvessem máquinas inteiramente compatíveis sem infringir as leis que regulavam a propriedade intelectual, logo a concorrência passou a desenvolver seus próprios AT.

Inclusive a Compaq, que em 1987 já ocupava uma invejável posição no mercado. Conhecida por fabricar micros caros mas de excelente qualidade, disputava a liderança da tecnologia de computadores pessoais com a IBM, que então já havia se envolvido com a aventura do MCA e abandonado a arquitetura ISA. Quem ocupou o vácuo deixado pela IBM foi a Compaq, que decidiu então desenvolver uma interface para conectar discos rígidos a seus computadores da linha AT usando o barramento ISA de 16 bits. Uma interface que integrasse tudo o que havia de mais moderno e eficiente na tecnologia da época - inclusive a transposição da eletrônica de controle para junto do disco - e que se aproveitasse da maior largura do barramento de dados do AT, pois o simples fato de transferir 16 bits de cada vez através de 16 linhas de dados faria com que a transferência se desse duas vezes mais rapidamente.

E, muito apropriadamente, a Compaq batizou essa interface de "Conexão AT".

Em inglês, AT Attachment. Que, como os americanos têm mania de siglas, passou desde então a ser conhecida por suas iniciais: ATA.

B. Piropo