Escritos
B. Piropo
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26/02/1996
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Enquanto Seagate e Quantum centravam seus esforços na solução do problema da lentidão dos drives IDE, a Western Digital (WD) ia além e se empenhava em uma tarefa mais abrangente: contornar também as demais limitações do padrão ATA. Mais especificamente, romper o limite de 504Mb, aumentar o número máximo de dispositivos conectados ao sistema e permitir o uso de outros dispositivos além de discos rígidos. Como estes esforços visavam, fundamentalmente, ampliar os horizontes do padrão IDE, batizaram as novas especificações de Enhanced IDE, ou IDE melhorado.

EIDE não chega a ser um padrão. Tecnicamente não passa de uma estratégia de mercado que se desdobra em alterações no software (mudanças no BIOS para aceitar os modos de transferência mais rápidos e vencer as demais limitações) e no hardware, permitindo às controladoras aceitarem, além dos discos rígidos, drives de CD-ROM e de fita.

Antes de entrar em detalhes sobre as características do EIDE, uma advertência. De acordo com a WD, que concebeu as especificações, para ser efetivamente classificado como EIDE um sistema deve satisfazer a quatro condições: suportar os modos de transferência mais rápidos do padrão ATA-2, não ter sua capacidade limitada a 504Mb, aceitar até quatro periféricos por sistema e não exigir que estes periféricos sejam obrigatoriamente discos rígidos. Porém, em inglês, o termo "enhanced", que em uma tradução livre significa algo parecido com "incrementado", é usado correntemente para designar qualquer coisa que tenha evoluído em relação a um modelo anterior. E ninguém pode impedir este uso. O resultado disto é que certos fabricantes, contrariando as especificações, decidiram classificar por sua própria conta alguns modelos de seus discos rígidos como "Enhanced IDE" somente porque eles são melhores que o modelo anterior e satisfazem a uma ou mais das condições especificadas, mesmo que não satisfaçam a todas. O que aumenta razoavelmente a confusão em um mercado que nunca primou por uma terminologia coerente. Portanto, tenha em mente que nem sempre o seu novo e reluzente HD EIDE terá todas as vantagens que a WD especificou quando concebeu o "padrão" EIDE.

Agora, vamos ver qual foi a estratégia adotada pela WD para contornar cada uma das limitações, começando pela mais simples: o número máximo de dispositivos.

De onde vem esta limitação? Bem, do DOS é que não é: se vocês lembram, a Int 13h usa oito bits do registro DX para conter o número do drive - o que, em tese, permite que o DOS aceite um número máximo de 256 drives. Mas há, sim, um limite no BIOS. Pois durante o POST (se você não sabe o que é isto, sugiro dar um pulo até o MicroCosmo, que vem destrinchando o assunto há um bocado de tempo) os parâmetros característicos de cada drive são lidos do CMOS (onde são gravados durante o procedimento conhecido por setup) e armazenados em áreas da memória denominadas FDTP (Fixed Disk Parameter Table) para serem usados a partir daí por quase todas as rotinas que acessam o disco. E na especificação original do padrão PC só há previsão para duas FDTP. Portanto, para ultrapassar o limite de dois discos rígidos é necessário modificar o BIOS para alterar o número de FDTP. O que não chega a ser um problema grave, já que o BIOS e a FDTP teriam mesmo que ser alterados para contornar as demais limitações. Os novos BIOS que aceitam as especificações da WD são conhecidos por EBIOS, ou Enhanced BIOS e a nova tabela de parâmetros assumiu a denominação de EDTP, ou Enhanced Disk Parameter Table.

Havia, no entanto, um obstáculo aparentemente incontornável: o padrão ATA foi concebido partindo do princípio que uma controladora poderia suportar no máximo dois drives, o master e o slave. Por esta razão atribuiu-se a um único bit do Drive/ Head register a importante missão de selecionar o drive. Mudar isto significaria alterar todo o padrão ATA original, o que não seria aceitável por razões de compatibilidade.

Ora, se não era possível aumentar o número de drives por controladora, por que não aumentar o número de controladoras? Para isto não haveria dificuldade alguma, pois o uso de duas controladoras de discos rígidos, uma primária e outra secundária, já era previsto desde o lançamento do AT. Na verdade a controladora secundária nada tem de especial: ela apenas usa outra interrupção e outro endereço de I/O para evitar conflitos com a primária. Por alguma razão, apenas a primária tem recebido amplo suporte de software e aceitação universal, mas nada impede que a secundária seja usada. E foi exatamente o que a WD fez para contornar o limite de dois drives: usar uma controladora secundária para ligar um segundo cabo onde podem ser conectados dois dispositivos ATA adicionais, elevando o número máximo para quatro dispositivos.

Tradicionalmente a controladora primária usada pelo padrão ATA ocupa o endereço de entrada/saída 01F0h e usa a IRQ 14, por isso conhecida como "interrupção do disco rígido". O "padrão" EIDE adotou o endereço 0170h e a IRQ 15 para a controladora secundária. E como a controladora em si mesma não foi alterada (mudou-se apenas seu endereço de I/O e a linha de interrupção), tudo se resumiu à alteração do BIOS. Ou seja: como o "padrão" EIDE também aceita os modos de transferência mais rápidos, um drive Fast ATA, como os discutidos semana passada, pode perfeitamente ser usado em um sistema EIDE, seja na controladora primária, seja na secundária.

Para que uma daquelas controladoras IDE antigas, que se encaixam nos slots da placa-mãe, possa assumir o papel de controladora secundária, basta dispor de uma forma de alterar seu endereço de I/O e IRQ, geralmente por meio de jumpers ou dip-switches. Mas este tipo de controladora está caindo em desuso, já que a maioria dos sistemas modernos integra o controle de dispositivos IDE na própria placa-mãe. Nas placas-mãe que aderem ao "padrão" EIDE há conectores para as controladoras IDE primária e secundária. Em cada um deles encaixa-se um cabo no qual podem se conectar dois dispositivos ATA, elevando para quatro o número máximo de dispositivos.

Pronto: um obstáculo vencido. Agora, vamos aos demais.

B. Piropo