Escritos
B. Piropo
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01/04/1996
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No segundo semestre do ano passado recebi duas ou três cartas de leitores muito parecidas. Elogiosas como, felizmente, são a maioria das cartas de vocês. Mas naquelas em particular o elogio vinha um tanto ressentido. Assim tipo "como é que um colunista com tanto valor e conhecimento como o Piropo desperdiça tanto tempo e espaço com esse monte de baboseiras que a Trilha Zero vem discutindo ultimamente?".

Se tem um negócio que considero importante é a opinião de vocês. Sem demagogia: afinal, sem leitores não há colunista. Portanto é preciso respeitar o gosto da turma. Resolvi então dar uma olhada no que eu andava escrevendo e acabei por concluir que aqueles leitores tinham razão: eu andava jogando conversa fora e já não falava de coisa séria há meses. Era preciso subir o nível da coluna.

Naquela ocasião havia um assunto que andava me encafifando: os padrões EIDE e Fast ATA. Um problema sério por duas razões. A primeira é que mais cedo ou mais tarde eles nos afetariam a todos, pois vinham sendo incorporados aos BIOS de todas as novas placas-mãe. E a segunda é que a quantidade de desinformação era brutal: fora os informes publicitários que só destacavam as vantagens e convenientemente esqueciam os defeitos, era difícil encontrar uma explicação decente sobre eles mesmo nas publicações mais respeitáveis. Portanto nada mais justo do que atender aos apelos dos leitores e mergulhar nos intrincados meandros dos novos padrões.

Fi-lo. E se arrependimento matasse, vocês estariam lendo agora uma coluna póstuma.

Não me entendam mal. Não é que me arrependa de ter atendido à vontade de vocês. O que lamento é ter errado na dose. Porque mesmo os mais fanáticos por tecnologia hão de concordar que uma série de vinte colunas sobre qualquer assunto é dose pra elefante. O erro, naturalmente, foi meu: avaliei mal a complexidade da coisa quando iniciei a série. O problema é que depois de começada, não dava para parar no meio.

A série acabou ficando como a famosa espada de Affonso Henriques: comprida e chata. Mas felizmente já terminou. E ficam aqui, primeiro, minhas desculpas e agradecimentos aos que concordam com esta avaliação e não obstante permaneceram fieis à coluna. Depois, o compromisso de evitar séries como aquela. Não que eu vá abandonar os assuntos técnicos, que sei que são do interesse de muitos de vocês. Mas uma série daquele porte e com a mesma profundidade, prometo: nunca mais.

Mesmo porque nestes quase cinco meses aconteceram um monte de coisas que eu tive vontade de comentar com vocês mas não pude para não interromper a série.

Então, vamos a elas. Começando por uma das mais recentes: o programa que a Receita Federal desenvolveu para levar nossa grana de forma mais indolor, o IRPF96. Por me faltarem alguns documentos, ainda não pude usá-lo para preparar minha declaração completa de imposto de renda. E como os problemas somente aparecem durante a utilização efetiva do programa, não posso emitir mais que uma avaliação preliminar. Mas o que eu vi até agora me impressionou muito bem.

Desta vez a Receita fez um trabalho de profissional: aquele jeitão amadorístico das versões anteriores desapareceu. O programa foi desenvolvido para Windows 3.x mas instalou-se tranqüilamente sob Windows 95. É subdividido em telas que correspondem aos diversos campos da declaração, desde a identificação do contribuinte até os quadros para entrada dos rendimentos, descontos e demais dados. Cada tela corresponde a uma "aba" na base da janela e um clique sobre a aba leva imediatamente à tela correspondente. Navegar pelas telas é intuitivo e o preenchimento é extremamente simples. Por exemplo: o campo da ocupação principal deve ser preenchido com o código correspondente. Se você souber o código da sua, basta digitá-lo no campo. Mas se não souber, um clique no ícone ao lado do campo abre uma janela com a lista das ocupações. Encontre a sua, clique sobre seu nome e não somente o campo do código é automaticamente preenchido como também o campo ao lado, com o nome da ocupação por extenso. O mesmo ocorre, evidentemente, com todos os campos cujo conteúdo pode ser encontrado em listas ou tabelas.

Na medida que os dados vão sendo preenchidos, alguns valores são transportados ou totalizados em campos de outras telas. Por exemplo: o valor do décimo terceito salário aparece tanto no tela de rendimentos recebidos quanto na de rendimentos tributáveis exclusivamente na fonte. Para evitar que o usuário entre com dados diferentes nos dois locais, somente o primeiro aceita a entrada de dados: o segundo é preenchido automaticamente assim que os dados são digitados no primeiro. O que é ótimo. Mas um usuário que vá diretamente para a segunda tela pode ficar perdido diante de um campo que deve ser preenchido mas que não aceita dados. Para evitar isto, sempre que se passa para uma tela onde há valores transportados de outros locais aparece uma janela informando de onde eles vieram. Parece bobagem, mas pode evitar muita dor de cabeça para o usuário. E são detalhes assim que identificam um programa bem feito.

Embora fácil de usar e intuitivo, o programa vem com uma ajuda primorosa. Que, além de explicar como se usa o programa, traz todo o manual de orientação do contribuinte. Usando e abusando do hipertexto e com todas as tabelas em anexo.

Como eu disse, sem usar o programa efetivamente é impossível fazer uma análise decente. Mas tudo o que vi até agora me impressionou vivamente. O programa me pareceu primoroso. Sobretudo pela intuitividade e facilidade de uso.

Eu só não digo que é um prazer usá-lo, porque ter prazer em usar programa de imposto de renda é coisa que nunca me passou pela cabeça.

B. Piropo