Escritos
B. Piropo
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01/07/1996
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Alguns leitores que trocaram mensagens via correio eletrônico comigo nas últimas três semanas se espantaram com o fato de eu manter em dia a correspondência mesmo de tão distantes plagas. Um deles, tentando conceber como conseguiria eu acessar meu provedor aqui no Brasil a partir dos EUA, concluíu que a solução óbvia seria através de uma ligação telefônica internacional, mas sendo eu o Piropo certamente teria engendrado uma solução mais criativa. Tanto me envaidece saber que há quem me imagine com tamanhas virtudes quanto lamento ter que decepcioná-lo. Pois usei, sim, uma forma criativa. Mas quem a engendrou não fui eu, mas meu provedor, a IBM. Que, por manter uma rede mundial própria, pode se dar ao luxo de colocar à disposição de seus usuários um número local para acesso à internet em praticamente todas as grandes cidades do mundo. A última lista que baixei continha cerca de seiscentos números cobrindo os cinco continentes, sendo quatro deles no Brasil: dois em São Paulo, um no Rio, um em Salvador e o quarto em Fortaleza.

Para quem viaja muito esta facilidade poderia fazer da IBM o provedor ideal, mesmo levando em conta que ela se inclúi no seleto grupo dos provedores mais caros do Brasil. Mas acontece que moro no Rio de Janeiro. Sendo assim, é daqui que faço a imensa maioria dos acessos à rede. E lamentavelmente, no Rio de Janeiro o serviço que recebo da IBM é, para dizer o mínimo, dos mais chinfrins.

Fora do Rio o nível do serviço é excelente. No Brasil, já conectei de Salvador e São Paulo sem o menor problema. E durante as três semanas que passei em Chicago e Nova Iorque, não me lembro de nenhuma de minhas dezenas de tentativas de conexão que não se completasse imediatamente. Não me recordo sequer de um único e solitário sinal de linha ocupada. Estabelecida a conexão, ela se mantinha sempre firme e forte, transferindo dados muito perto da taxa máxima aceita pelo modem. Pois bem: de volta ao Rio, tentei sem sucesso baixar meu correio eletrônico durante três dias. Cheguei a tentar a conexão com o mesmo notebook usado na viagem, desconfiado de algum problema no modem do desktop. Nada feito. Somente obtive sucesso quando fiz uma ligação interurbana para um dos números de São Paulo. Das centenas de tentativas que fiz para o Rio, a maioria se frustrava com os modems negociando indefinidamente uma conexão que jamais se completava. E as poucas que se completaram cairam enquanto eu baixava as mensagens - o que obrigava o processo a recomeçar do início para ser novamente frustrado. Um negócio extremamente irritante.

Segundo o pessoal do suporte IBM - a quem tenho recorrido com freqüência face ás rotineiras dificuldades em estabelecer uma conexão decente - o que ocorreu no início da semana passada foi uma situação extrema. Mas mesmo em tempos normais tenho tido problemas com a qualidade das conexões. Para o bem da verdade, diga-se que na equipe de suporte encontrei sempre pessoal competente, solícito e gentil procurando ajudar - e eventualmente conseguindo, com sugestões para alterar alguns parâmetros de configuração do modem. Mas, ao fim e ao cabo, chega-se sempre ao mesmo ponto: infelizmente eles não podem fazer muito, já que o problema se deve à má qualidade das linhas telefônicas. Ou seja: embora sem afirmar diretamente, deixam entrever que a incompetência não é da IBM, mas da Telerj. O que, para quem conhece a qualidade dos serviços prestados pela IBM fora do Rio e pela Telerj dentro, não é difícil de acreditar. Pelo contrário: faz todo o sentido.

O problema é que, embora para a IBM seja fundamental esclarecer que não é ela a responsável pela má qualidade dos serviços, para o usuário não faz a menor diferença. O que interessa é o resultado final: ele paga caro e recebe um serviço de segunda.

Quando soube que a IBM pretendia prover acesso à internet, ainda nos tempos do lançamento do Warp, decidi esperar por ela. Conhecendo o padrão de excelência da empresa, imaginei que receberia um serviço caro, porém de qualidade inatacável. Portanto, a espera valeria a pena. Pelo visto me enganei. Como, ao que parece, o problema se restringe ao Rio, tudo indica que a responsabilidade pela minha decepção não seja mesmo da IBM. Mas como eu disse, para o usuário isto não faz diferença: o que interessa é o serviço que recebe. O resultado de tudo isto é uma situação no mínimo curiosa: mantendo-se as coisas no pé em que estão, o bom nome da IBM acaba sendo comprometido pela má qualidade dos serviços prestados pela Telerj...

B. Piropo