Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
05/08/1996
< Memórias II: >
< Memória RAM >

O adjetivo "aleatório" ("random", em inglês) aplica-se a algo que depende de fatores fortuitos, do acaso. Portanto, "acesso aleatório" significa um tipo de acesso que é feito em uma ordem que não obedece a nenhuma regra preestabelecida: hoje aqui, amanhã ali, logo mais acolá, conforme minha vontade ou as leis do acaso. Ou seja: acessos que não são feitos em uma ordem predeterminada. E a expressão "memória de acesso aleatório" (em inglês "Random Access Memory", cujo acrônimo é RAM), em princípio deveria se referir a um tipo de memória na qual se pode recuperar dados de qualquer endereço ao acaso, sem nenhuma ordem predeterminada. Mas, infelizmente, não é esse seu significado. Na verdade a expressão se refere a um tipo de memória onde se pode escrever ou ler informações, contrapondo-se à memória ROM (acrônimo de "Read Only Memory", ou memória apenas de leitura), esta sim de nome apropriado, já que se trata de um outro tipo de memória na qual se pode apenas ler, jamais escrever dados (mas como podem ser lidos em qualquer ordem ao acaso, o acesso a dados nela armazenados, evidentemente, é tão aleatório quanto a aqueles armazenados na memória RAM). A escolha da designação "memória de acesso aleatório" foi, portanto, muito pouco afortunada - provavelmente feita por um brilhante técnico em informática que dominava todos os segredos dos bits, bytes e circuitos eletrônicos mas tinha pouquíssima familiaridade com seu próprio idioma. Familiaridade equivalente à do não menos brilhante técnico em informática patrício que traduziu o termo "Random" para "randômico", encontradiço em algumas publicações técnicas que endossaram esta valorosa contribuição ao vernáculo, enfeitando-o com mais uma palavra cheia de som e fúria, mas significando nada. Esta porém, desculpem, mas me recuso a usar: minha tolerância com a estupidez, embora vasta, é limitada.

Seja como for, apropriada ou não, a expressão "memória de acesso aleatório", assim como seu acrônimo em inglês "RAM", recebeu aceitação tão ampla, geral e irrestrita que não há como ignorá-la. Portanto tem sido e será fartamente usada nesta coluna (um americano com conhecimentos mais sólidos de seu idioma propôs a adoção de "Read and Alter Memory", que significa "memória [que se pode] ler e alterar", mantendo a sigla mas corrigindo o significado; mas a expressão não "pegou"). Da mesma forma, usaremos a expressão duplamente infeliz "memória RAM" (que traduzida ao pé da letra significaria "memória memória de acesso aleatório"), que já caiu na boca do povo. E não será este modesto escriba que irá brigar com o povo. Isto posto, após esta pequena digressão semântica, vamos ao que interessa. Ou seja: àquilo que caracteriza a memória RAM.

Em nossos micros, a memória RAM permite tanto a leitura das informações que armazena quanto a escrita de novas informações e a alteração das que haviam sido previamente armazenadas. E jamais as embaralha: quando se quer recuperar uma determinada informação, há meios de encontrá-la rapidamente exatamente no lugar onde ela foi armazenada. E mais: as informações armazenadas na memória RAM lá permanecem inalteradas enquanto o usuário desejar, ou seja, até que as remova, substitua por outras ou simplesmente desista de usá-las (por exemplo, quando desligar a máquina ao término de uma sessão de trabalho). E a exemplo do amor, que somente é infinito enquanto dura, o armazenamento da dados na memória RAM só é permanente enquanto a máquina está ligada (ao contrário da memória ROM, cujas informações não podem ser alteradas, mas podem ser recuperadas ao se religar a máquina). Como os dados armazenados em RAM são perdidos ao se desligar a máquina, diz-se que ela é uma memória "volátil".

E é volátil por uma razão muito simples: para manipular informações, ou seja, permitir que os dados que armazena sejam escritos, lidos e alterados, os chips (ou circuitos integrados) que constituem a memória RAM empregam eletricidade. E o fluxo de eletricidade, como sabemos, é interrompido quando se desliga a máquina.

Mas como informações podem ser manipuladas com o uso da eletricidade? Bem, se lembrarmos que os dados são armazenados sob a forma de bytes e que cada byte é formado por oito bits que, por sua vez, podem assumir apenas os valores "um" e "zero", fica fácil perceber a razão. Pois para representar um bit basta usar uma grandeza que possa alternar entre dois estados perfeitamente definidos, um deles representando o "um", o outro representando o "zero". E a eletricidade é rica de grandezas que oscilam entre dois estados opostos - como carregado/descarregado (capacitores), aberto/fechado (interruptores, relés e circuitos elétricos em geral), fluindo/interrompida (corrente elétrica) e assim por diante. O exemplo clássico são oito lâmpadas, uma ao lado da outra, cada uma representando um bit. Presumindo-se que uma lâmpada acesa represente um bit "um" e apagada represente um bit "zero", acionando os oito interruptores que acendem e apagam as lâmpadas pode-se representar qualquer byte.

Pois é exatamente assim que funciona a memória RAM de nossos micros. A diferença essencial é que cada byte não é representado por oito lâmpadas mas sim, dependendo do tipo de chip utilizado, por oito capacitores ou oito relés.

Semana que vem veremos o que são relés, como funcionam e como usá-los para armazenar informações.

B. Piropo