Escritos
B. Piropo
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12/08/1996
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Um relé (em inglês, "relay") é um interruptor acionado por eletricidade. Um dispositivo que se interpõe em um circuito elétrico (denominado circuito principal) e é capaz de interromper ou não o fluxo de corrente elétrica neste circuito principal de acordo com o estado de um circuito secundário, chamado circuito de controle. Quando o circuito de controle é energizado, o relé fecha o circuito principal. E quando cessa o fornecimento de eletricidade ao circuito de controle, abre-se o circuito principal. A maioria dos relés usa um mecanismo engenhoso, no qual parte da corrente elétrica que flui pelo circuito principal é desviada para realimentar o circuito de controle, mantendo-o fechado até que uma ação externa interrompa a corrente no circuito de controle - o que abre o relé e o mantém aberto até que outra ação externa aplique novamente uma corrente ao circuito de controle. Dispositivos deste tipo são chamados bi-estáveis, pois oscilam entre dois estados que não se alteram sozinhos: sempre é preciso uma ação externa para modificá-los. Se você achou tudo isto muito complicado, lembre-se pelo menos disto: relés são bi-estáveis, ou seja, depois que são levados a qualquer um de seus dois estados, nele permanecem e é preciso uma ação externa para levá-lo ao estado oposto. Do ponto de vista de seu uso em chips de memória, esta é a característica mais importante dos relés.
Assim a primeira vista, um relé parece um negócio meio besta. Afinal, se eu preciso de um interruptor para cortar a corrente que alimenta o relé, que por sua vez corta a corrente do circuito principal, porque não usar logo o interruptor, em vez do relé, para cortar a corrente do circuito principal? Mas há tarefas nas quais os relés são insubstituíveis, como controlar correntes de milhares de Ampère no circuito principal com pequeníssimas correntes no circuito de controle ou controlar o circuito principal a grandes distâncias. Sem falar em seu uso como memórias.
Os relés mais comuns são dispositivos eletromecânicos: uma bobina é enrolada em torno de um núcleo de ferro, formando um eletroimã. A extremidade inferior do núcleo é ligada ao circuito principal. Acima da extremidade superior, um pequeno disco de aço, ligado ao restante do circuito principal, é mantido afastado do núcleo pela ação de uma mola, interrompendo a corrente no circuito principal. Para acionar o relé, faz-se fluir a corrente de controle pela bobina, acionando o eletroimã, que vence a força da mola e atrai o disco de aço até fazê-lo tocar no núcleo - o que estabelece o contato elétrico entre disco e núcleo, fechando o circuito principal. Quando a corrente que alimenta a bobina é cortada, o eletroimã é desativado e a mola puxa o disco para longe do núcleo, interrompendo novamente o circuito principal.
Mas há também relés eletrônicos, formados por transistores ligados entre si tão engenhosamente que basta aplicar um potencial elétrico (ou "voltagem") a um terminal de controle para fechar o circuito por eles controlado. E basta desenergizar o terminal de controle para abrir o circuito. Há duas formas de implementar relés usando transistores. A mais compacta (e econômica) emprega quatro deles. A mais rápida e eficaz (porém mais volumosa) usa seis. Parece muito, mas basta lembrar que os microprocessadores modernos contém milhões de transistores para perceber que, com as modernas técnicas de miniaturização, circuitos integrados de dimensões notavelmente pequenas podem conter milhões de relés deste tipo.
Alternando entre dois estados opostos (aberto ou fechado), os relés cumprem a exigência fundamental para armazenamento de dados. O que faz com que circuitos integrados (ou "chips") constituídos por milhões de relés eletrônicos possam ser usados como memória RAM. Cada relé armazena um bit. Oito deles armazenam um byte. Admitindo-se que um relé aberto representa "um" e fechado "zero", pode-se representar qualquer byte fechando e abrindo os relés correspondentes a seus bits "um" e "zero" respectivamente. Sendo o relé um dispositivo bi-estável, um valor nele armazenado jamais se altera - exceto se for propositadamente modificado pelos circuitos que controlam a memória. Ou seja: relés são dispositivos ideais para usar em chips de memória RAM, que pode ser escrita, lida e alterada.
Memórias deste tipo, constituídas por microscópicos conjuntos de relés formados por transistores, chamam-se "memórias estáticas" ("Static RAM", ou SRAM). Seu nome deriva do fato de serem formadas por dispositivos bi-estáveis, ou seja, cujo estado não se altera sozinho com o tempo. Assim, depois que um dado é ali armazenado, ele permanece lá, estático, até ser modificado por alguma ação externa.
Memórias estáticas são dispositivos excelentes para uso em nossos micros. Podem ser acessadas muito rapidamente e seus circuitos de controle são relativamente simples. Mas como para armazenar cada bit são necessários de quatro a seis transistores, são caras. E, apesar da miniaturização, relativamente volumosas.

B. Piropo