Escritos
B. Piropo
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Volte de onde veio
16/09/1996

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Ao que parece, já longe dos tristes tempos da reserva de mercado e ultrapassada a euforia dos primeiros anos de abertura, os dois maiores eventos de informática do país começam a definir seu perfil. A última Fenasoft ficou com a cara da feira do micreiro. Já esta Comdex tem todo o jeitão do evento corporativo. O melhor indicador, sem dúvida, é o coeficiente de engravatamento: aqui na Comdex pelo menos seis em cada dez visitantes estavam devidamente engravatados (os mais experientes, evidentemente, combinando o terno e a gravata com a liberdade de um par de tênis velho e desbotado, que fazer uma feira direito exige uma milhagem digna de maratonista). Mas este não era o único sintoma: o que havia nos estandes era principalmente coisa para profissional. No que toca a software, os CD-ROM de joguinhos e mulher pelada deram lugar a sisudos aplicativos de gerenciamento de redes. Já na arena do hardware, os barulhentos kits multimídia cederam o campo para os plotters gigantescos da Océ e poderosíssimos servidores de rede. Até o tema internet, o oba-oba do momento, era tratado com a seriedade dos homens de negócio, mais interessados em montar uma intranet em suas empresas que em surfar pelos sítios sexy da web.

Novidades, poucas. A maior, talvez, coube à Microsoft, que apresentou afinal o tão esperado Windows NT 4.0, o NT com cara de Windows 95. E se você já está cansado de ler análises das versões beta do produto e acha que isso não é novidade, contenha-se: o que estava rodando no estande da Microsoft semana passada não era a beta, mas a versão final, que somente será lançada nos EUA esta semana. Quer dizer: pela primeira vez vemos rodar no patropí um sistema operacional da MS antes dos americanos. Um sistema que tem a mesma interface do Win95 e incorpora a solidez do WinNT. O resultado seria um produto quase perfeito, não fosse por um detalhe: segundo Luís Banhara, Gerente de Marketing de Plataformas e Servidores da MS Brasil, ainda menos da metade da API de Win95 foi migrada para o NT 4.0 - porcentagem que aumentará nas próximas versões até que os dois produtos se integrem em um só. O resultado é que nem todos os programas de Win95 rodam no novo NT. Não fosse isto, este poderia ser o sistema operacional ideal para o desktop do usuário doméstico.

A Sysgraph mostrava o Imagineer da Intergraph, um interessantíssimo aplicativo CAD 2D para Windows 95 e Windows NT. Trata-se de um programa extremamente fácil de usar, mas que incorpora recursos poderosíssimos - como o Free Sketch, que permite traçar um esboço a mão livre e transformá-lo com um único clique de mouse em um traçado geométrico preciso, que pode então ser alterado modificando o valor numérico de suas cotas. Um dos recursos mais interessantes que já vi em programas deste tipo.

A Sun mostrava um protótipo de seu Network Computer. Uma maquineta do tamanho de um livro, com uma CPU RISC MicroSparc II de 100MHz, que incorpora duas portas seriais, suporte para vídeo, áudio, teclado e rede. Sem drive de disquete, disco rígido ou porta paralela, a máquina só funciona ligada a uma rede local, em cujo servidor busca dados e programas e acesso às impressoras da rede. Segundo Ricardo Brognoli, Gerente de Produto da Sun, o objetivo da máquina é reduzir drasticamente os custos - inclusive os de administração - de uma rede local. A máquina, pequena e barata, deverá estar disponível no início de 97 já com um chip MicroJava, uma CPU otimizada para rodar Java applets, e com o Java OS gravado em ROM. Ao contrário dos NC para uso doméstico, aqueles PCs sem disco rígido nem teclado concebidos para acessar a internet usando a televisão como monitor e que na prática não servirão para coisa alguma além de irritar o usuário com sua lentidão, estes NC para uso corporativo são uma idéia interessante que tem tudo para dar certo.

No estande da Computer Associates rodava esperta a versão 2.0 do Visual Objects, o produto que salvou a sanidade de nove entre dez clipeiros, permitindo que o imenso cabedal de conhecimentos de programação Clipper fosse preservado e reciclado nos tempos das interfaces gráficas e linguagens orientadas para objetos. Rodando em Windows 95 e no recém lançado Windows NT 4.0, o Visual Objects é uma ferramenta de desenvolvimento flexível para ambientes de 32 bits que permite compilar sofisticados aplicativos com extrema facilidade - para quem sabe, é lógico...

A Interchange mostrava o SIGA, um serviço eletrônico de informações on line sobre o trânsito de São Paulo. Na tela, um mapa com os principais corredores de tráfego mostra as condições do trânsito atualizadas a cada meia hora (ou menos, dependendo do preço e da vontade do cliente). Onde o trânsito flui, aparecem retângulos verdes. Onde há engarrafamentos, retângulos vermelhos. Na base do mapa, o total de quilômetros de engarrafamento (quando consultei, no final da tarde de quarta-feira, o mapa estava pontilhado de retângulos vermelhos e os engarrafamentos somavam 112 km). Um clique em um dos retângulos vermelhos leva a uma tela texto que informa a causa do engarrafamento e fornece alguns roteiros alternativos onde o trânsito flui menos lentamente. Só quem conhece o trânsito caótico de São Paulo pode dar o devido valor a esta maravilha da tecnologia...

A Apache Micro Peripherals exibia seu Apache Video Power Pack. Um pacote que inclui um voice modem/fax DSVD de 33.600bps, uma placa de captura de vídeo, uma micro câmara de vídeo a cores e, além do software usual para gerenciar mensagens de voz e fax, um programa para vídeo conferência. Ou seja: você faz uma ligação telefônica para um micro do outro lado do mundo equipado com outro conjunto da Apache e enquanto troca dados, conversa e vê a imagem do interlocutor se movendo em seu vídeo em tempo real. É claro que a 33.600bps os movimentos aparecem um tanto bruscos. Mas sem dúvida dá para o gasto. E, afinal, a um custo total inferior a mil dólares por pacote, a coisa é mais que satisfatória.

B. Piropo