Escritos
B. Piropo
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30/12/1996

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Depois de amanhã entraremos em um novo ano. O que justifica mais uma interrupção na longa série sobre memórias para comentar as perspectivas que 1997 nos abre no campo da informática. Mas antes é preciso discutir quais são os limites daquilo que consideraremos "informática". Porque a moda da internet gerou um curiosíssimo fenômeno, a "falsa expansão dos horizontes da informática", que faz com que as pessoas que não têm acesso à rede imaginem que todos os que fazem parte deste clube cada vez menos seleto são experts em computação. Experimente: entre com um assunto qualquer que você já domina em um mecanismo de busca tipo Yahoo ou Alta Vista. Selecione umas poucas das centenas de URLs que a busca gerou (hoje em dia, qualquer besteira produz centenas de referências). Embora não seja imprescindível, visite alguns dos sítios só para ter certeza que tratam realmente do assunto. Depois, na próxima reunião social de que participar, mencione en passant que seus dados foram obtidos na internet e ao longo da conversa deixe escapar um ou outro comentário sobre os sítios visitados. Passe então um par de horas discorrendo sobre o apaixonante tema da criação de periquitos cor-de-rosa e veja como impressionará vivamente os circunstantes com seus profundos conhecimentos de... informática.

Pois bem: a informática que iremos discutir aqui não é esta. É aquela antiga, cujo ibope está em baixa, que trata dos computadores e daquilo que podemos fazer com eles, incluindo usufruir de algum prazer. Para a qual o novo ano reserva formidáveis novidades que estão passando quase despercebidas. E olhe que algumas, como o USB, afetarão profundamente a vida de todo micreiro já nos próximos meses. Outras, como a ATX, somente serão percebidas por poucos, mas nem por isto são menos importantes. E ainda outras, como a DSL, embora ardentemente desejadas, durante algum tempo não passarão de um sonho inatingível neste mundo onde vivemos - que dizem ser o terceiro, mas toda a vez que levanto um telefone do gancho tenho a impressão que classificá-lo em terceiro é no mínimo um desavergonhado ufanismo.

Como? Essa sopa de letras aí de cima parece muito complicada? Pois destrinchêmo-la. Começando pela DSL, de Digital Subscriber Line, uma tecnologia que aumentará mais de trezentas vezes a rapidez com que seu modem transfere dados e fará com que uma consulta à internet deixe de ser um exercício de paciência. E o faz utilizando os fios de cobre comuns empregados na rede telefônica existente. O que quer dizer que estender a fiação por toda a cidade, a etapa mais cara e complicada de sua implantação, já está pronta. Os primeiros modems DSL começaram a aparecer nos EUA e alcançam uma taxa de transferência de 768 Kbps, compatível com o padrão HDSL (High-speed DSL). Mas o novo padrão ADSL (Assymmetric DSL) vem aí e alcançará inimagináveis 9Mbps. O problema é que para que esta tecnologia se dissemine, não somente é preciso um novo modem na casa do freguês, como também é necessário que a companhia telefônica se equipe de acordo. E como as linhas DSL não podem se estender por mais de 8Km, há que espalhar centrais telefônicas ou hubs por toda a cidade, respeitando a distância máxima de 8km até a casa do usuário. Nos Estados Unidos isto já está começando a acontecer. Aqui no Rio, cuja companhia telefônica mal consegue prestar os serviços elementares mesmo nas novíssimas centrais digitais (não obstante eu ter contratado com a Telerj o serviço "chamada em espera", uma significativa parcela das ligações para meu telefone retorna o sinal de ocupado, o que seria impossível se o serviço funcionasse), só deus sabe.

Já ATX nada mais é que um novo padrão de formato para placas-mãe que visa substituir o padrão corrente, conhecido como "Baby AT". Pois os fabricantes de placas-mãe, encabeçados pela Intel, concluíram que o advento da multimídia e o novo padrão USB, que mencionaremos adiante, exigem maior número de conectores na traseira de nossos micros. Além do que as novas CPUs de 3,3 Volts e a disseminação do APM (Advanced Power Management) pedem mudanças nas fontes de alimentação para incorporar a nova voltagem e novos sinais de controle. Resultado: os fabricantes reuniram-se e criaram o padrão ATX, que altera o tamanho das placas-mãe, assim como sua furação e localização dos conectores. Nada de revolucionário. Tanto que provavelmente a maioria dos usuários nem se aperceberá da mudança. Porém, como os idealizadores do padrão prevêem que ele dominará o mercado dentro de três anos, se você resolver fazer o upgrade de sua placa-mãe, fique esperto e verifique se por acaso a nova já é ATX, uma daquelas que aderiu a padrão. Porque, se for, você terá que trocar também o gabinete e a fonte de alimentação.

Finalmente o USB. Acrônimo de Universal Serial Bus, um novo padrão de barramento para ligação de dispositivos externos que, no que toca à facilidade de uso, é a coisa mais importante que apareceu na informática pessoal desde o surgimento das interfaces gráficas. Explicar USB demanda tempo e espaço, tanto que este vosso criado escreveu um artigo sobre o assunto que vocês encontrarão alhures. Mas para dar uma idéia de como ele simplifica as coisas: instalar um novo periférico em seu micro vai ficar mais simples que trocar uma lâmpada. Sem exagero. Portanto, fique ainda mais esperto. Porque os periféricos USB já começam a pipocar no mercado americano e em breve estarão por aqui. O que me fez mudar meu presente de Natal para mim mesmo. Que agora é uma placa mãe que suporta o padrão USB. Já encomendada.

Pois é isto. E além disto há muito mais. No campo da informática (de verdade), o novo ano nos reserva um monte de coisa boa. Aproveite. E Feliz Ano Novo.

B. Piropo