Sítio do Piropo
Visão Digital: Escolhas
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Se você sair perguntando por aí quem é esse tal de Piropo, as poucas pessoas que reconhecerem o nome dirão que é um cara (algumas dirão que é um coroa, mas nesse caso, cara ou coroa não faz a menor diferença) que escreve sobre computadores. O que é verdade: de fato, escrevo sobre computadores (mal, mas escrevo). Isto provavelmente os levará a concluir que minha profissão está de alguma forma ligada à informática. Pois enganou-se: de profissão, sou engenheiro. E a exerço em um campo que pouco tem a ver com computadores: minha especialidade é engenharia ambiental e é com ela que ganho a vida.

Esta introdução, eu sei, é um tanto inesperada. Mas a usei como desculpa para contar um fato ocorrido há alguns anos. Quando uma jovem adolescente, filha de uma amiga, por saber que eu trabalhava nesta área, me procurou para pedir uma orientação. Disse que desde criança tinha um profundo interesse pelas questões ambientais. E, chegada a hora de escolher sua profissão, decidira que haveria de ser algo ligado ao meio ambiente. E me perguntava que carreira deveria seguir.

Que responsabilidade, pensei eu... Decidir minha carreira já não tinha sido fácil. Que dizer a dos outros. E ainda mais de uma menina que depositava tanta confiança em meus critérios a ponto de me escolher para decidir por ela. A coisa era séria. Pedi tempo para pensar.

Dias depois, voltei a falar com a moça. Disse-lhe que talvez estivesse encarando a questão pelo lado errado. Trabalhando com meio ambiente havia todo tipo de profissional. Havia os químicos e engenheiros, como eu, dedicados a controle da poluição. Havia advogados especializados em direito ambiental. Havia jornalistas e sociólogos trabalhando na área de conscientização comunitária. Havia professores dedicados a educação ambiental. Havia médicos sanitaristas voltados para o saneamento urbano e rural. Havia engenheiros florestais ligados ao manejo racional dos recursos renováveis. Havia até mesmo todo um batalhão da Polícia Militar dedicado a coibir os crimes contra o meio ambiente. Havia, pois, de tudo. Qualquer que fosse a carreira, ela poderia usá-la para trabalhar em alguma coisa ligada ao meio ambiente. Por que não inverter a questão? Ao invés de procurar saber que carreira seguir para trabalhar em meio ambiente, sugeri que ela auscultasse sua alma e descobrisse sua vocação. Porque só pode ser um bom profissional aquele que a segue. Ela deveria então se perguntar, sem levar em conta sua vontade de melhorar o meio ambiente: que carreira tinha vontade de seguir? Escolhida a carreira, que se formasse. Depois, bastava aplicar seus conhecimentos em alguma tarefa ligada ao meio ambiente. A resposta foi engenharia. Então, que engenheira fosse.

E foi: no ano seguinte prestou vestibular. Casualmente, para uma faculdade onde naquela época eu lecionava. Tive então o prazer de, além de amigo, tornar-me seu professor. A menina era brilhante. Formada, especializou-se na área ambiental, fez mestrado e doutorado no exterior, voltou ao Brasil e hoje é uma respeitada e bem sucedida profissional dedicada ao tratamento e destino final de resíduos sólidos poluentes e contaminantes.

Nesta altura vocês estarão pensando que a história talvez seja bonita e edificante, mas nada tem a ver com este espaço. Pirou, o Piropo? Isso aqui é um jornal sério e tem a ver com informática. Não leu o nome? Visão Digital, cara. Digital. Qual é?

Pois ocorreu-me contar esta história aqui ao pensar nas artes que o destino costuma aprontar para as pessoas. Não é curioso que eu, que sempre trabalhei com meio ambiente, um dia acabasse me envolvendo com informática? Trace um paralelo entre as duas áreas e repare: pois não é que do lado de cá, o lado digital, ocorre exatamente o oposto que no de lá.

Não entendeu? Pois explico. Meio ambiente é um campo do conhecimento ao qual qualquer carreira pode ser aplicada. Quer dizer: você pode ser químico, engenheiro, advogado, jornalista, sociólogo, professor, médico, engenheiro florestal ou até policial e, independentemente da carreira, trabalhar com meio ambiente. Já informática é um campo de conhecimento que se pode aplicar a qualquer carreira. Ou seja: você pode concluir sua faculdade de informática e trabalhar (com informática, evidentemente) em tarefas ligadas a química, engenharia, direito, jornalismo, sociologia, magistério, medicina, engenharia florestal e até mesmo nas delegacias de polícia. Não é interessante?

Sim, mas e daí?

E daí que de repente eu me lembrei dos tempos em que eu mesmo estava fazendo faculdade. Das vezes em que me questionei sobre a escolha feita. Teria sido mesmo a melhor? Engenharia era realmente o que eu queria? Tornar-me-ia eu um bom profissional? E se não me tornasse? Pensando nisso, imaginei que talvez alguns de vocês eventualmente tenham o mesmo tipo de preocupação. E resolvi lhes dar uma palavra de alento.

Pois acontece que, de todas as carreiras, você certamente escolheu a mais versátil. Ela pode ser exercida, em toda a sua plenitude, praticamente em qualquer campo do conhecimento humano. Portanto, se porventura você está se questionando sobre a escolha e querendo saber se ela combina com a vocação, lembre que, qualquer que seja a vocação, certamente você achará um jeito de aplicar a ela seus conhecimentos de informática.

Então, em vez de ficar aí pensando bobagem, bola pra frente. E aproveite para largar este jornal e ir estudar, que falta pouco para você meter a mão no diploma.

Boa sorte.

B.Piropo