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B. Piropo

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07/1997

Vantagens e Desvantagens da FAT 32

 

O principal objetivo da Microsoft ao desenvolver a FAT32 era romper a barreira dos 2 Gb para a capacidade dos discos rígidos. Mas, já que estava "com a mão na massa", aproveitou para encaixar mais algumas vantagens em seu novo sistema de arquivos.

Acontece que o aumento do tamanho das entradas da tabela de alocação de arquivos foi tão grande, possibilitando um aumento do número máximo de clusters tão brutal, que tornou possível alcançar capacidades enormes mesmo usando clusters relativamente pequenos. Ora, como o desperdício de espaço em disco aumenta proporcionalmente com o tamanho do cluster, reduzir os clusters implica um significativo ganho de espaço pela redução do desperdício. De fato, quando se usa a FAT32, a relação entre capacidade do disco ou partição e o tamanho do cluster é a exibida na tabela:

Capacidade do disco ou partição
Tamanho do cluster
Capacidade do cluster
menor que 260 Mb
1 setor
512 bytes
de 260 Mb a 8 Gb (exclusive)
8 setores
4 kb
de 8 Gb a 16 Gb (exclusive)
16 setores
8 kb
de 16 Gb a 32 Gb (exclusive)
32 setores
16 kb
de 32 Gb até 2 Tb
64 setores
32 kb

Ora, a imensa maioria dos discos rígidos atualmente disponíveis têm capacidade inferior a 8 Gb e, portanto, sob a FAT32 utilizam clusters de apenas 4 kb. E basta comparar este valor com os 32 kb dos clusters utilizados pela velha FAT nos discos de capacidade superior a 1 Gb para se ter uma noção da enorme redução do desperdício de espaço que a nova subdivisão em clusters menores proporciona.

Mas não é só isto. Na velha FAT, o número "entradas" (número total de arquivos e de outros diretórios) que um diretório qualquer podia abrigar era ilimitado. Com uma única exceção: o diretório raiz, justamente o mais importante. Que, por razões ligadas à própria estrutura do sistema de arquivos, tinha uma posição fixa no disco e ocupava um número determinado de setores. A conseqüência disto é que, sendo seu tamanho fixo, o número de entradas era limitado a um máximo de 512. A nova FAT32 contornou esta limitação possibilitando que, à semelhança dos subdiretórios, também o diretório raiz possa ocupar qualquer posição no disco e se estender por tantos setores quantos necessários, expandindo-se a medida que novas entradas vão sendo introduzidas - o que possibilita o armazenamento de um número ilimitado de entradas.

Finalmente, por questões de segurança, a nova FAT32 é gravada duplamente no disco. Trocando em miúdos: em cada disco rígido há duas cópias da tabela de alocação de arquivos e cada vez que um arquivo é adicionado, alterado ou removido, ambas as cópias são atualizadas. O que, na verdade, não é novidade: a velha FAT também fazia isto. O problema é que, por incrível que pareça, o cuidado era praticamente inútil, já que somente era usada a primeira cópia e caso ela se corrompesse o sistema não oferecia meios de substitui-la pela segunda (embora pudesse ser feito por programas de terceiros, como o Norton Utilities, PC Tools e outros especialmente desenvolvidos para cuidar de discos). Já a nova FAT32 permite a utilização da segunda cópia da tabela para efetuar correções caso constate algum problema na primeira.

Pois estas são as boas novas. Agora as ruins: como a FAT32 usa entradas na tabela de alocação de tamanho diferente da velha FAT, discos que usam o novo sistema de arquivos não podem ser reconhecidos seja pelos programas utilitários de disco, seja pelos sistemas operacionais acostumados a trabalhar com a velha FAT.

A primeira conseqüência é desagradável, mas não incontornável: basta desenvolver programas que consigam trabalhar com as novas tabelas. De fato, a própria MS fornece com o OSR2 versões de seus utilitários de disco FDisk, Format, Scandisk e Defrag que se sentem "em casa" nos discos que usam a FAT32. E a Symantec, que desenvolve o Norton Utilities, o mais popular dos utilitários de disco, já incluiu na versão mais recente o suporte ao novo sistema de arquivos e os demais logo seguirão seu exemplo. Mas mesmo assim há sérios inconvenientes: muitos programas apresentarão problemas ao tentar acessar discos que usam a FAT32. Um exemplo: o compactador de discos da própria MS, o DriveSpace (inclusive a versão 3, fornecida com o OSR2), não reconhece drives que usam seu novo sistema de arquivos.

Já a segunda conseqüência não há como contornar: nenhum sistema operacional além de Windows 95 (e da versão do DOS fornecida com ele, o MS-DOS 7.1) é capaz de reconhecer discos que usam a nova FAT32 - nem mesmo o Windows NT da própria MS. O que apresenta dois desdobramentos desastrosos. Primeiro: se, além do Windows 95, você costuma usar em sua máquina outro sistema operacional (como o OS/2, Linux, ou até mesmo os demais sistemas da própria MS, como o Windows NT e a velha dupla MS-DOS/Windows 3.x), os discos que usam a FAT32 somente serão "enxergados" por Windows 95 e permanecerão inacessíveis sempre que você inicializar a máquina com o outro sistema. Segundo: se você adotar a FAT32, se arrepender mais tarde e quiser voltar para a velha FAT, seus discos rígidos terão que ser submetidos a novo particionamento, perdendo todos os dados (nada que uma boa cópia de segurança não resolva, evidentemente, mas ainda assim você terá que reparticionar e reformatar o disco e reinstalar o sistema operacional antes de restaurar a cópia - o que dá um trabalho infernal).

Mas os problemas de incompatibilidade não são os únicos. Há também a questão do desempenho: segundo a própria MS, a influência da FAT32 sobre o desempenho (rapidez de acesso a disco) seria desprezível. Porém, ainda segundo a MS, programas que dependam de grandes seqüências de leitura ou escrita, "podem apresentar uma modesta degradação de desempenho sob FAT32". Já segundo Frederik Gross, em uma interessantíssima análise da FAT32 em seu "The Harddisk Guide" no magnífico "Tom's Hardware Guide", a queda do desempenho é sensível e situa-se entre 3% e 6%.

Em resumo: usando FAT32 rompe-se o limite dos 2 Gb e alcança-se uma razoável redução do desperdício de espaço em disco - além de vantagens marginais como o número ilimitado de entradas no diretório raiz e a possibilidade do sistema usar a segunda cópia da tabela de alocação de arquivos para resolver eventuais problemas com a primeira. Em contrapartida, perde-se em desempenho e compatibilidade.

Tocando em miúdos: se seu disco rígido é maior que 2 Gb e você se recusa a subdividi-lo em partições, ou se a redução do desperdício de espaço em disco é importante para você, tudo bem. Mude para a FAT32 e boa sorte. Do contrário, pelo menos por enquanto, melhor ficar com a velha FAT mesmo. Afinal, trabalhar com partições não é assim tão ruim (e, incidentalmente: procure fazer as suas sempre menores que 1 Gb para trabalhar com clusters de 16 kb e manter o desperdício de espaço em disco em níveis aceitáveis).

Porque, quando a questão é compatibilidade, seguro morreu de velho.

 

B. Piropo